quinta-feira, março 19, 2009

outrora

Esta é a dança da morte
outrora fora outono;
agora apenas tentar ser forte
ante à falta de sorte
pois ainda estamos fadados
sim, estamos fadados
a dançar o que não queremos
Afinal, esta é a dança da morte.
Tentamos torná-la macabra
pois aceitar sua naturalidade
dificulta aceitar a hora marcada
A morte já dançou com meu irmão,
minha avó, minha amiga Cida
E até com a gata Pimenta.
Outrora fosse outra hora
e nada disso me afetaria.
Mas o tempo me quebrou,
ao invés de me endurecer
E eu nunca perdi a ternura.
Esta é a dança da morte
ela dança como num tango
ela vai e ela vem.
Tal e qual o outono
que principia hoje
Dia de São José
início de Áries
o Imperador Adriano
Já disse
que devemos renunciar
aos jogos de outrora.
E como fazê-lo?
tudo o que sei
é que hoje acordei chorando.
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quarta-feira, março 11, 2009

Carta aos Demissionários

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Não-morador,
vive em rua sem saída.
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Onde só se pode
"discutir a relação"
que já acabou.
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Não-morador
não é
namorador.
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pósfácio para essa poesia: certa vez assisti a um filme japonês chamado "Dolls", e lá alguém diz: "... não seja escravo de sentimentos tão tristes".
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sábado, março 07, 2009

Leite tirado da via-láctea

Ei, Pessoa Flutuante!...

A flutuar

no líqüido aminiótico

Ei, pessoazinha!...

Peso sem instante

Flutua

pequena lua

chamada barriga.

Na grande lua das quatro fases

que bóia

na liqüidez calma e fria da noite

há pouca gravidade;

Na pequena barriga de quatro meses

da minha esposa

há muita gravidez

Ei, pessoinha flutuante!...

desliza como um peixe

na escuridão materna

Ela tem uma calma noite

dentro de si

Alegra meu olhar

quando ela anda, já não anda

também flutua;

pisando a sem gravidade

do meu próprio coração.
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Nós nos amamos

e por isso todas as coisas belas

nos pertencem.
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