terça-feira, julho 28, 2009

ex poente




A tristeza é uma ponte para se escapar da dor

e à dor a gente vai para não ver a verdadeira angústia

e a angústia, ah, a angústia...

essa a gente contempla

com as mãos no rosto

debruçado que estamos

no parapeito da ponte já citada

E eis que lá estamos

na ponte enferrujada.

E começamos a entardecer

E estamos sós com nossos remorsos

Mas eis que fazemos uma tarde morna

morna como o rio sob a ponte

Um rio calmo.

De lágrimas mornas.

Eu rio, eu salvo...

as águas mortas

águas turvas

rosto poluído

que enferruja

a ponte

e o poente

e o pedinte

que se despe

e se despede

e se despedaça

numa fuligem

que doura o céu

que fica vermelho, dormente, dormente

até que tudo turva-se de vez

e foi a vez de se ver

que tristeza, dor, angústia e todo o resto

se fundem

se confundem

e tudo fica belo

e perdido.
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quinta-feira, julho 23, 2009

terça-feira, julho 21, 2009

C o r o n a

Adeus, amor;

A deusa morta:

o que ficou

o azul do céu

uma coroa

e o seu olho preto

- é o eclipse.

Adeus, amor;

A deusa morta

nesse inverno

nos olha

devemos dar

as mãos

e esperar

juntos

pelo adeus.
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sábado, julho 18, 2009

Halo



A fumaça nos cega,

Um pórtico se desenha, crepitando,

mal discernível

e por ele vemos

Um halo em volta do Sol.

E a fumaça vem das folhas secas,

vem das oferendas aos deuses,

vem dos nossos sonhos queimados

e se interpõe às nossas chopanas queimadas

por nossos inimigos.

Logo, logo, o vento varrerá a fumaça

e o tempo nos esquecerá.

Mas o halo, o halo...

temos um instante de paz.
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A Catedral de São Pedro em chamas



O que podemos fazer diante dessa luz terrível,

a não ser apresentarmos nossas trevas sinceras?

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sexta-feira, julho 10, 2009

Anúbis




Anúbis




Veja a fogueira


na curva do caminho escuro


tremendo tal uma bandeira


e iluminando o uivo noturno


do coiote humano.


Ele uiva a canção da liberdade


que tanto lhe fere quanto lhe cura


como a lua, que não é sua


mas sem ela, sua verdade


se desvanece.


A fogueira-gêmea são seus olhos


estão em brasa tamanho é seu ódio


o venderam como a um escravo


como irmãos podem fazer isso?


(seu uivo troveja; alguns pensam


que é um deus com cabeça de chacal)


Por fim, a dor é tão intensa


que ele cai; mais um a tentar...


A lua então aparece depois do eclipse


e sua luz fugidia


se derrama sobre o corpo frágil


e nu e inerte


da pobre criança que nada soube


do não-saber


Justificar.

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Comentário sobre essa poesia:



"Anúbis" foi criado por mim em 1996. Essa poesia foi feita sobre a história de José no Egito, como é descrita no livro bíblico de Gênesis.

Também é usado o simbolismo do signo de Aquário, que também permeia o simbolismo de José.

José foi o 11° irmão, todos filhos de Jacó - o Jacó que viu a famosa escada espiral de anjos, que depois inspiraria desde algumas pinturas do escritor e poeta místico William Blake, até a música Stairway To Heaven, do Led Zeppelin.

A história de Jacó também é profetizada no livro apócrifo de Enoque, um livro obscuro cheio de passagens ocultas e referências místicas.

Também coloquei uma imagem que me impressionava muito na época. Eu então pegava o ônibus "309-T" cidade tiradentes, que passava ao longo da avenida Aricanduva, uma avenida em sp que margeia grande parte da mata Parque do Carmo. Por causa de imensa floresta , denoite a região é completamente escura, chegando a dar um certo medo. A uma certa altura, havia sempre alguém que queimava fogueiras na curva da avenida, perto de onde hoje é o famoso Kazebre Rock Bar. Em meio àquela escuridão, ver aquelas fogueiras, como dois olhos flamejantes brilhando vermelhos e furiosos na noite escura, discernindo a curva da avenida em raias de luminosoidade vacilante cor de laranja, me impressionava bastante.

Cumpre lembrar que meu signo é Aquário e na época eu me sentia preso a certos sentimentos agoniantes.

De tudo isso veio a inspiração para escrever essa poesia, a qual nunca publiquei antes.

Cumpre lembrar que as rimas foram automáticas, eu não pensei para fazê-las.

Até a próxima!

Josiel
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quarta-feira, julho 08, 2009