domingo, maio 31, 2009

honestidade

honestidade,

preço terrível por uma palavra!

nada da boa sombra da mentira;

o honesto anda debaixo desse sol escaldante,

que lhe arranca a pele,

e desse vento que trás um sal que lhe fustiga a carne nua.

Sim, o honesto está nu

sua boca sedenta clama pela água das facilidades da vida.

Mas o seu coração é chama pior que o sol que o devora,

e assim essa caravana feita pelo honesto e seus tormentos

é impelida pelo deserto da existência

provocando admiração a todos nós,

mentirosos poetas

envoltos naquele manto de sombras convenientes.
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...que o diabo amassou

A arte é pão

para alma.

Palavras

sovadas

por estranho pilão.

pobre de um

artista;

que amassa

o alimento

e o diabo leva

a fama...

(e a sua alma faminta)
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sexta-feira, maio 15, 2009

missão de fé

No Alto da escuridão

paira, ondulante

a luz escorrida da procissão.

O morro é invisível;

se fundiu ao escuro do céu

e alguém diria que a procissão

é o fio de uma esguia cascata

dum fogo sereno, tremulante

silenciosa serpente de fogo

ferindo sem ferir

a noite absurda e sem amanhecer.

O meu caminho muda

nas esquinas em penumbra

onde faço meu clero;

E já diviso

que a serpente se fragmentou.

Agora são pequenas manchas de fogo

subindo, de forma vacilante,

de forma amorosa,

lutando contra o vento que

sempre quer apagar as chamas

atendendo ao chamado misterioso.

As tochas são agora

uma alaranjada romaria

de pequenas estrelas

subindo sem peso e sem destino

para o crepúsculo cuzeiro

o topo do outeiro

onde jaz o buraco-negro

que, atroz,

a todos

seduz

e todas as luzes

em noite escura

vão se tornando

conforme vão se apagando.
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quinta-feira, maio 14, 2009

"já se faz tarde"

Estou no ônibus

Estou só

noite voadora

vindo do hospital

ouço o "clube da esquina"

e já é a minha cabeça

que quer ser voadora

e se libertar

das minhas prisões

e as luzes são muito oblíquas

quando se tem a sensação

que já se faz tarde

(demais).
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quinta-feira, maio 07, 2009

caleidoscópio

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Toda pessoa é cubista:

possui vários lados

e sobre cada cabeça,

paira (ameaçadora)

uma sentença.
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Uma leve espada

flâmula flutuante

que pende casual

até pousar delicada

no pescoço que,

tomado assim por esse beijo,

deixa a cabeça rodopiar,

grávida de sentenças,

olhando para tudo

de ângulos mortos.
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sábado, maio 02, 2009