"Vazio" é uma delimitação frágil, uma cerca de arame farpado sentimental com que se tentar criar uma fazenda no sem-infinito chamado "Nada".
O Nada é um oceano ainda pior que um coração vazio, ainda que tal coração, como assombrosa embarcação (fantasma) tente navegar por tal mar de tormentas, e por um instante se advinhe as profundezas abissais que se escondem neste mar que se contempla ao ver e não ver que há coisas que não fazem sentido - ainda que sentimos intensamente algo que não faça sentido, por incongruência poética que possa haver, e o que somos sem essas incongruências que nos fazem entorpecer por um ou dois instantes?
No Vazio tateamos.
E...
Prata é a cor do fio que emerge da escuridão.
O fio fibra, como a corda rasgante de um violão.
É pouco, é piegas, mas vibra como nosso coração.
Tateamos.
Pegamos o fio.
Dedos trêmulos, Respiração ofegante.
O fio desliza entre o polegar e o indicador.
E vamos seguindo, querendo uma saída para além do escuro.
Mas nunca saímos die lá.
Ficamos com um aperto no peito - "angústia", como diriam os antigos romanos.
Pois não sabemos se o que temos é o fio de Ariádne
Ou o fio de uma gigantesca teia de aranha onde ficamos cada vez mais presos.
Mas o sangue que escorre da mão indica:
O fio é o arame farpado do início
É o quadrilátero de nosso vazio
E ainda assim, consciente fio,
a única coisa que nos impede que caiamos diretamente no Nada.
.
.
.
Josiel Vieira de Araújo
.
.
.