sexta-feira, dezembro 25, 2009

Camille Claudel





A vida esculpiu Camille Claudel,
Lentamente.
Ferramenta afiada, cruel e fria
Foi deslizando, nela, pelos anos.
Para ela, esculpir foi retirar.
E dela, tudo retiraram
Numa lenta erosão.
Um gotejar cruel
Um martelar initerrupto
silencioso, mas que ecoava
E ela sentia.
Amor, sanidade, esperança:
a cada estocada da ferramenta, essas coisas caíam
como estilhaços
como entulho
sem fazer muito barulho
tudo foi embora.
Só sobrou Camille Claudel
Lapidada pela desgraça e pelo infortúnio
E muito maior que as coisas que a feriram
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Fio de Ariádne

"Vazio" é uma delimitação frágil, uma cerca de arame farpado sentimental com que se tentar criar uma fazenda no sem-infinito chamado "Nada".
O Nada é um oceano ainda pior que um coração vazio, ainda que tal coração, como assombrosa embarcação (fantasma) tente navegar por tal mar de tormentas, e por um instante se advinhe as profundezas abissais que se escondem neste mar que se contempla ao ver e não ver que há coisas que não fazem sentido - ainda que sentimos intensamente algo que não faça sentido, por incongruência poética que possa haver, e o que somos sem essas incongruências que nos fazem entorpecer por um ou dois instantes?
No Vazio tateamos.
E...
Prata é a cor do fio que emerge da escuridão.
O fio fibra, como a corda rasgante de um violão.
É pouco, é piegas, mas vibra como nosso coração.
Tateamos.
Pegamos o fio.
Dedos trêmulos, Respiração ofegante.
O fio desliza entre o polegar e o indicador.
E vamos seguindo, querendo uma saída para além do escuro.
Mas nunca saímos die lá.
Ficamos com um aperto no peito - "angústia", como diriam os antigos romanos.
Pois não sabemos se o que temos é o fio de Ariádne
Ou o fio de uma gigantesca teia de aranha onde ficamos cada vez mais presos.
Mas o sangue que escorre da mão indica:
O fio é o arame farpado do início
É o quadrilátero de nosso vazio
E ainda assim, consciente fio,
a única coisa que nos impede que caiamos diretamente no Nada.
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Josiel Vieira de Araújo
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sexta-feira, dezembro 18, 2009

cidade lúcifer

uma nota no desespero
ocaso lhe indulte
véspera
uma gota de tristeza
sorvida pela vespa
uma não, muitas vespas
que fizeram seu ninho no espaço
que há onde há cortes
vespas de lúcifer
a estrela da véspera
a estrada lhe espera.
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