Josiel
Singularidade
Num lugar agradável, entre as dimensões, aquém do tempo e do espaço, Deus estava sentado calmamente tomando sua habitual xícara de café.
Um cotovelo na mesa.
Uma mão segurando uma das faces.
Olhando, sossegado.
A pequena colher que mexe o café preto na xícara.
Aroma bom.
A espuma foi virando, lentamente, uma espiral.
E Deus olhava.
A espiral difusa e lenta, boiando na negritude.
A espiral de bilhões de estrelas chamada via-láctea.
Ele a achou bonita.
Deus estava sossegado. Uma das mãos no rosto. Observando calmo sua xícara esfriar um pouco. Vendo também seu reflexo na superfície negra desse estranho café chamado universo onde uma pretensiosa espuma chamada via-láctea boiava.
Alguns momentos. Bilhões de anos. Dezenas deles.
Então ele bebeu.
O universo não implodiu, como se pensava.
Apenas ele foi para o interior de Deus, que ficou com um gosto amargo na boca.
FIM
escrito por Josiel Vieira de Araújo