A lâmina da represa sob o Sol; um café à margem da represa. Ele sentado ali vendo a lâmina, vendo lâminas, lâminas, lâminas.. Mãos cruzadas sobre a mesa Seu terno cor de grafite; e ele era tão jovem, e tão bonito Sua boca quase feminina de tão bonita, seu olhar assustadoramente profundo, suas sobrancelhas grossas e expressão severa, grave, inteligente, triste, fria e distante no rosto magro, e a menina podia observar tudo isso nele. A menina. A represa. A lâmina. Mãos cruzadas; vidas ainda cruzadas como mãos, como dedos de um aperto de mão que se desfaz.
Pergunta:- Você continua doando sangue?
- Sim. Acredito no amor ao próximo.
- Suponho que ainda seja voluntário.
- Sim.
- É, eu imaginei que você continuasse gostando de ajudar pessoas
- Pois é- E andam comentando cada vez mais do seu trabalho... é muito bom...
- Eu sei...
- Você é inteligente. E é legal conversar com você.
- Ora, obrigado.
Silêncio.
Ela olha para o chão Mais silêncio. Uma represa cheia. E então ela perde o controle, transborda e avança furiosa para ele, o segura pelo colarinho e o sacode com ódio, com os olhos transtornados de lágrimas e pelo colarinho e o sacode com ódio, com os olhos transtornados de lágrimas e ódio:
- ESCUTA AQUI, SEU FILHO DA PUTA, EU ME ODEIO POR NÃO TE AMAR! VOCÊ É O FILHO DA PUTA MAIS LEGAL QUE EU CONHECI, E MESMO ASSIM, NÃO ADIANTA; EU NÃO CONSIGO TE AMAR! PODE ME EXPLICAR COMO É POSSÍVEL UMA DESGRAÇA DESSAS?
Ele tira um cigarro do terno amarrotado pelas mãos trêmulas dela. Vira a cara, acende o cigarro, sentindo o corpo ofegante dela sobre o dele. Dá uma tragada e solta para o alto uma longa e pensativa baforada. Em seguida olha para ela:
- Eu não sei.
Ela dá um beijo furioso na boca dele e em seguida um violentíssimo tapa. E se vai Ele continua parado, uma mão sobre a mesa, outra a segurar o queixo de uma maneira elegante, e entre os dedos dessa mão, o cigarro. Pensando.
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